quinta-feira, 27 de abril de 2017

A arte de Poetizar.

Sempre admirei uma bela poesia, ainda mais quando é de excelente escrita.
Quero desde já ceder um espaço aqui nesse blog para essas grandes obras que merecem toda divulgação possível,  espero que gostem assim como eu, pois esse escritor merece todo o nosso respeito e admiração.
Ao longo do tempo postarei mais informações sobre o autor da poesia que assim como vocês também estou conhecendo.

Aqui está,  desfrutem:
O HOMEM QUE SE CASOU COM UMA ÉGUA

Josafá era um rapaz
Honesto e trabalhador
Tinha casa na cidade
E sítio no interior
Cuidar de tudo o que tinha
Era esse o seu labor.

Moço de boa família
Era homem de valor
Pobre porém decidido
A prosperar sem favor
Preparava com afinco
Seu futuro promissor.

Criava porco e galinha
Ema avestruz e pavão
Tinha uma vaca de leite
A melhor da região
Seus trinta litros coados
Causavam admiração.

Aos vinte anos de idade
Quase nada lhe faltava
Mas sentia que uma flexa
O coração lhe acertava
Por amor de uma donzela
O seu peito soluçava.

Bem perto de onde morava
Existia uma pequena
Casta bonita e cheirosa
Qual uma flor de açucena
Rainha das redondezas
Se chamava Madalena.

Madalena era de prendas
De casa não se afastava
Era da lide doméstica
Do que mais se ocupava
Tecia peças de renda
E vestidos costurava.

Também cantava no coro
Da igrejinha local
Quando nascia um menino
Preparava o enxoval
Organizava os presépios
Para as festas de Natal.

Era dos pais o orgulho
Inveja da mulherada
Que hoje só pensa em funk
Em arrocha e vaquejada
Em dar prancha no cabelo
Se divertir e mais nada.

No quintal de sua casa
Criava uma égua mansa
Boa de sela e de trote
Animal de confiança
Deu-lhe o nome de Cupido
Pela sua temperança.

Quando ia pra cidade
Cupido lhe transportava
Com uma delicadeza
Que todo mundo invejava
Ela então retribuindo
Todo carinho lhe dava.

Perto dali residia
Um sujeito sem moral
Tirado a arruaceiro
Uma pessoa do mal
Que enxergava em Madalena
Sua mulher ideal.

Seu nome era Manoel
Conhecido por Manuca
Não gostava de trabalho
Tinha uma vida maluca
Seu esporte preferido
Beber e jogar sinuca.

Madalena já sabia
Das intenções do rapaz
Porém nada lhe dizia
Queria viver em paz
Falava consigo mesmo
É assim que mulher faz.

Manuca por sua vez
Nunca deixava barato
Perseguia Madalena
Fosse na rua ou no mato
Mantinha-se na espreita
Se escondendo como um gato.

Ela ficava calada
Não contava pra ninguém
Tinha medo de escândalo
Pois era gente de bem
E ao astuto mancebo
Não tratava com desdém.

Um dia vindo da missa
Deu de cara com Manuca
Que saía todo prosa
De uma casa de sinuca
Quando os dois deram de cara
Quase houve uma muvuca.
O HOMEM...

O conquistador que era
Um teimoso contumaz
Não notou que Josafá
Vinha um pouco logo atrás
Madalena deu de ombros
E despistou o rapaz.

Josafá e Madalena
Começaram a se encontrar
Em menos de quinze dias
Já estavam a namorar
E sem muito mais delongas
Resolveram se casar.

Foram direto à cidade
E ao padre da freguesia
Que foi logo declarando
Empecilho não havia
Mandou publicar proclamas
Com prazo de trinta dias.

No dia designado
O casal se aprontou
Em direção à igreja
Cada um se deslocou
Madalena ia em Cupido
Para encontrar seu amor .

Josafá saiu na frente
Como é a regra geral
O noivo chegar primeiro
Para o ato nupcial
Dirigiu-se ao altar-mor
Para o cerimonial.

Nosso galã de segunda
Ficou endemoniado
Por saber que a moça estava
De casamento marcado
Ano dia mês e hora
Estava tudo acertado.

Combinou com dois comparsas
E armaram uma cilada
Ficaram esperando a noiva
Numa curva da estrada
Quando ela se aproximou
Da égua foi derrubada.

Amarraram os seus braços
E a cobriram com um lençol
Depois tomaram de um lenço
Embebido com formol
E ali ficaram escondidos
Esperando o pôr do sol.

Cupido nesse momento
Num gesto desesperado
Fez uso de seus poderes
Nunca antes revelados
Mas o momento exigia
Que os mesmos fossem usados.

Tirou a sela e arreios
Numa atitude serena
Transformando-se em mulher
Para enfrentar o problema
Cobriu-se toda de branco
Vestiu-se  igual Madalena.

Chegou na hora marcada
Dirigindo-se ao altar
Mas antes pela demora
Precisou se desculpar
Falando para os presentes
Estou pronta pra casar.

Tido ocorreu sem percalços
Na pura normalidade
Acabada a cerimônia
Sem fazer qualquer alarde
Chamou Josafá de lado
Contando toda verdade.

Sem perder mais um minuto
Foram à Delegacia
Relataram ao delegado
Tudo aquilo que ocorria
Para o lugar da ocorrência
O delegado seguia.

Josafá ia na frente
Distante mais de uma légua
Ao seu lado ia Cupido
Que já voltara a ser égua
Heroína da história
Com seu trabalho sem trégua.

Chegando ao local do crime
Encontraram o desordeiro
Deram-lhe voz de prisão
Algemaram  bem ligeiro
Libertaram Madalena
Daquele seu cativeiro.

Dpois de tudo acabado
O problema resolvido
Todos riram da história
E de como tinha ocorrido
Depois foram ao capelão
Que ainda estava aturdido.
O HOMEM cont...

O vigário quando soube
Ficou muito indignado
Nunca vira em sua igreja
Fato tão inusitado
Chamou Josafá e disse
O ato está anulado.

Não aceito essa heresia
Pois respeito a minha fé
Homem casado com égua
É coisa que não dá pé
Que vá se queixar ao bispo
Ou então à Santa Sé.

Foram falar com o bispo
Na cúria diocesana
Que ali naquele momento
Quase caiu da poltrona
Dizendo não é comigo
Mandou o caso pra Roma.

Quatro meses se passaram
Até chegar a resposta
Os mais entusiasmados
Faziam suas apostas
No veredicto do clero
Para a solução proposta.

Um envelope lacrado
Chegou de Roma afinal
Dentro dele um documento
Trazia o selo papal
E um carimbo atestante
De "matrimônio legal ".

Houve grande regozijo
Com louvores a Javé
Todos foram absolvidos
Decidiu a Santa Sé
Porque também o vigário
Agira de boa fé.

Entendeu o Santo Padre
Em sua nobre missão
Não foi pervertida a ordem
Valeu a boa intenção
Afinal tem casamento
Até por procuração.

Pelo erro cometido
Manuca foi perdoado
Mas não vai ficar assim
Disse o vigário zangado
Daqui o senhor não sai
Sem purgar o seu pecado.

Deu-lhe como penitência
Rezar pra Jesus Menino
Duzentas ave-marias
Mais o credo bizantino
Ficou livre assim Manuca
Para seguir seu destino.

Cupido pelo que fez
Foi dispensada da lida
Regiamente compensada
Por sua dona querida
Não precisou trabalhar
Nem mais um dia na vida.

Josafá e Madalena
Gozaram lua de mel
Ali mesmo na fazenda
Contando estrelas no céu
E durante toda a vida
Um foi ao outro fiel.

Aqui termina a história
De um amor de verdade
Que por ser puro e sincero
Venceu adversidades
Porque o amor sempre vence
É esta a realidade.

FIM

Massilon Silva
22/03/2017